domingo, 3 de dezembro de 2017

Tecnologia: Reflexôes e dicas de uso da internet por adolescentes

1- Diferentemente dos adultos que “entram na internet”, “navegam na internet”, “pesquisam informações na internet”, os adolescentes “estão na internet”. Este “estar na internet” gera para o adolescente uma necessidade de conciliar uma diversidade de atividades, pois a internet é vivenciada por muitos como uma espécie de extensão do próprio corpo. As interações com seus pares, as descobertas, as emoções acontecem também na internet. Entretanto, é preciso ter claro que as redes sociais selecionam aquilo que você vai acessar de acordo com o que você posta. Isto dá uma impressão que todo mundo pensa igual a você. Este fenômeno também referido como “bolha” faz com que seu universo de possibilidades e descobertas pode ficar muito restrito e afetar seu desenvolvimento se não equilibrar o tempo conectado via tecnologia com a vivência cotidiana de interações e descobertas sem a mediação da tecnologia.
No dia a dia este “estar na internet” pode gerar tensões e conflitos no ambiente familiar, pois, se os amigos estão jogando, o/a adolescente quer participar do jogo naquele exato momento, mesmo que seja na alta madrugada, na hora das refeições ou mesmo na única hora que os pais têm para assistir a um filme juntos, conversar ou sair para um programa em família. Isto acontece também quando algo muito interessante está rolando nas redes sociais ou algo que todos estão comentando.
A primeira dica é: educar os adolescentes a darem mais importância às pessoas de sua convivência cotidiana e também às atividades de interação que não precisam ser mediadas pela tecnologia. A interação, o jogo, as redes sociais não podem estar acima dos horários, rotinas e da convivência familiar. Para isso ajuda muito estabelecer um horário de atividades diárias que contribua para assegurar que o/a adolescente tenha tempo para viver experiências reais de interação para além da internet. Dialogue com seu filho para que o tempo que ele passa na internet não seja sem limites.
Para que o desenvolvimento do corpo e das funções cognitivas e emocionais na adolescência seja equilibrado é fundamental ter um tempo adequado de sono (em torno de 10 horas), alimentação equilibrada e em horários regulares, exercícios físicos e frequência à escola (Desde 2009 a lei brasileira tornou obrigatória a educação dos 4 aos 17 anos).
Se o/a adolescente dorme 10 horas; passa 4 horas na escola, faz todas as refeições em 2 horas, vão sobrar 8 horas do seu tempo para outras atividades. Num cenário com este poderíamos dizer que passar menos de 3 horas/dia em atividades exclusivamente na internet pode ser aceitável desde que não sejam contínuas. Se ele/a passa de 3 a 6 horas/dia em atividade exclusiva na internet isto representa um risco para a saúde física e mental; mais de 6 horas/dia, nem pensar.
2 – Adolescentes vivem testando seus limites, por isso têm necessidade de correr risco. É importante ajudá-los a calcular riscos. Uma forma de fazê-lo é perguntar se a consequência pode ser desfeita. Por exemplo: numa hora de raiva você ofendeu seu amigo/a, depois você pede perdão e reconstrói a sua amizade. Agora se você compartilhar na internet uma ofensa, imagem ou qualquer conteúdo que ofenda seu amigo/a vai ser muito difícil de apagar.
A segunda dica é: ajude seu filho/a a entender as consequências do seu ato. A internet não é um mundo sem lei. Tudo o que você faz na internet tem consequência.
3 – A adolescência é uma fase de desenvolvimento na qual o autoconhecimento, a autoconsciência e a autoestima são essenciais, por isso é preciso assegurar a intimidade e o espaço pessoal para que eles/as possam refletir, pensar, sentir e tomar decisões livres. Entretanto, este direito não exime os pais da responsabilidade de orientar para que estes momentos não os coloquem em situações de maior vulnerabilidade e sofrimento.
A terceira dica é: não confunda direito à intimidade com privacidade na internet. Do ponto de vista prático não existe privacidade na internet. Tudo o que circula na rede tem a possibilidade de se tornar público com consequências para o/a própria/o adolescente e seus responsáveis. Por isso, os pais têm o direito e a responsabilidade diante do Estado, de saber por onde os filhos andam, inclusive na internet.
4 – O reconhecimento das qualidades, habilidades, capacidades e competências dos/as adolescentes é o melhor caminho para estabelecer vínculos de confiança e corresponsabilidade. Reconheça as habilidades reais do/a adolescente. Se tem bom senso de humor; se tem agilidade nos jogos, se tem perspicácia para identificar notícias falsas; se é popular entre os colegas. O reforço positivo é a mais antiga e eficiente ferramenta para a educação.
A quarta dica é: valorize as capacidades do/a adolescente na navegação online e navegue junto para descobrir as coisas interessantes da internet e ajudá-lo/a a distinguí-las das coisas absurdas.
5 – Querer sempre mais é uma característica humana que se expressa de forma mais incisiva na adolescência. É uma característica positiva do desenvolvimento humano que ajuda a humanidade a evoluir. O lado perverso desta característica é a insatisfação constante e a incapacidade de valorizar pequenas conquistas, aprendizagens e sucessos.
A quinta dica é: não deixe seu filho/a decidir que celular ele quer, que pacote de dados e de chamadas você irá adquirir para ele/a. São os pais que devem decidir de acordo com as condições econômicas da família e a conveniência. Não faz muito sentido dar um equipamento com mil possibilidades e pacotes de navegação infinitos e depois querer regular o tempo que passam na internet.
6 – É na adolescência que aprendemos a diferença entre uma brincadeira para descontrair e nos aproximar dos outros e a ofensa, o bullying e o assédio. A regra é simples: se o/a outro/a se sentiu ofendido você deve parar.
A sexta dica é: adolescentes precisam aprender que ofender, agredir e humilhar alguém é uma atitude socialmente e juridicamente inaceitável, inclusive na internet.
7 – Por mais paradoxal que pareça ao senso comum, adolescentes gostam de aprender. Eles estão em busca de conhecimento que lhes facilite a vida e aumente sua realização pessoal. Mesmo que os seus próprios amigos, conhecidos e pessoas da mesma idade sejam a principal fonte de informação quando se trata da internet, pais e os adultos em geral também são levados em conta quando percebem que a informação é compartilhada e não imposta.
A sétima dica é: disponibilize aos adolescentes, informações, dicas, procedimentos, cartilhas, sites, aplicativos, ferramentas que lhes ensinem a fazer um uso seguro da internet. As dicas sobre o uso seguro da internet devem ser como camisinha. Se você não tem muita habilidade para conversar sobre a importância do uso, como se usa, quais as consequências de não usar, simplesmente disponibilize. Deixe na gaveta dele/a ou num lugar acessível. Faça o mesmo com as dicas de uso seguro da internet, incluindo canais de ajuda e denúncia para possíveis casos em que se sintam vulneráveis.
8 – As regras de convivência que propiciam mais e melhor interação familiar para além da internet devem ser seguidas também pelos adultos. De que adiantaria um discurso favorável ao equilíbrio se, na prática, os pais exageram na atenção à telinha para resolver seus assuntos particulares ou de trabalho, em detrimento de momentos de conversa, brincadeiras, atividades culturais e/ou esportivas com os filhos?
A oitava dica é: mantenha a coerência entre o que você ensina e o que você faz.
9 – A internet também pode motivar conversas entre adultos e adolescentes. O meme do momento, a opinião de um influenciador sobre um tema da atualidade, um artigo de uma revista eletrônica podem servir de mote para trocar impressões, aprender e se divertir juntos.
A nona dica é: mantenha um diálogo frequente com os/as adolescentes. Quanto mais você conhecer do universo deles/as, mais condições você terá de opinar e ajudar.
10 – O fenômeno da pós-verdade característico da internet (em que fatos objetivos têm menos influência para moldar a opinião pública do que apelos à emoção e às crenças pessoais) afeta a todos – adultos e adolescentes. Boatos são reproduzidos como verdades, com forte impacto na formação de opinião e comportamento.
A décima dica é: ajude os/as adolescentes a ponderar a veracidade de determinadas fontes de informação, comparar informações de diversas fontes, encontrar fontes legítimas e desencorajar o compartilhamento de informações sem checar as fontes. Além disso, a internet hoje é fonte de renda para muitas empresas. Os adultos podem contribuir para o desenvolvimento de senso crítico por parte dos/as adolescentes para que compreendam quem e como essas empresas lucram, com um marketing digital que nem sempre é muito explícito e pode induzir desejos de consumo, tendências de moda e comportamento.
* O especialista Mário Volpi é coordenador do Programa Cidadania dos Adolescentes do Unicef no Brasil.
Fonte: http://g1.globo.com/como-sera/quadros/adolescentes/noticia/2017/03/tecnologia-reflexoes-e-dicas-de-uso-da-internet-por-adolescentes.html
Postado por: Nathália Medeiros da Silva 

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